FREDY - diário de um ato(r)

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segunda-feira, 21 de abril de 2008

BLOKO

Hoje

Primeiro dia do OUTONO e os soluços longos dos violões.

De manhã, os atuantes do teatro no Rio, que buscam outro corpo, se encontraram.

E malharam o corpo. Suaram. Correram muito e correram veloz como Mercúryo e alcançaram, no lugar, a ligação do teato.

Depois de treinar os músculos, a resistência, preparando o corpo pra dominar a mente, trabalhamos o espiritual, os canais que abrem passagem ao deus da Olaria no terreiro do Pé de Laranjeira.

Hoje houve uma hierofante entre os praticantes.

Nós que estávamos exaustos no meio do trabalho, terminamos todos água...leves, bamboleantes, passando o conteúdo vazio, na hora enchido com nossas flores terceiro olho.

Dali podíamos fazer tudo, sem falar. E continuamos no axé. Na paz conquistada por um dia de treinamento. Porque como diriam, é um luxo em meio a cidade que corre, os que podem pelo iniciamento do rito a ser aberto, se encontrar e meditar, suar, e trabalhar o espírito, a alma, que é o corpo. È um luxo poder fazer isso, ou mesmo querer e ainda por enquanto não poder.

As coisas são conquistadas, nosso ócio assim como trabalho.

E um será no outro.

Depois no final da tarde, lemos a MORTA.

O 1° quadro. O que por nós será praticado, atuado no Dulcina.

E os corifeus desejosos que lá estavam, começaram a se embrenhar na mata, na ontologia... do texto.

Na prática da fala.

E a fala pediu o corpo.

Nasceram novas camadas e a retomada de A OUTRA ser a telúrica Terra... numa discussão profunda, para a superfície ser refinada.

O desejo foi tanto e as surpresas de novas pessoas lendo, que fomos a praça, instigados por um sentimento de poeta. Do outro lado da rua. Lá fomos nós, que depois de meditar a rubrica, que diz que os personagens separados não estão juntos, mas na ação são coletivos.

Uma coisa assim...

Já havia a meditação dos personagens planetas, pra entender a predisposição física e como eles se inter-relacionariam.

Mas o que ele diz é que eles não se comunicam entre si. O que nos deu um jogo, como evolução da primeira autópsia, onde colocamos todas as falas dos personagens juntas, como um monólogo pra ver realmente se eles falavam sozinhos. E falam como falam coletivamente, e não dramaticamente senão fica chato e óbvio. Isso na teoria até é compreensível. Mas vai falar o texto sem escutar o outro, sem pegar o fio da meada, da música do corpo-instrumento do outro. Nós, que nos treinamos a escuta. Fazendo assim toda vez os personagens ficarem naquele mundico dramático, psicológico, enquanto queríamos é analisar todo esse princípio. Ontologia. Pré-dispor. Como planetas que demonstram as tendências de como eles influenciam alguém.

Os personagens sim, têm um monólogo sozinho, e para nossa confusão Oswald os coloca numa construção dramática, de prosa, conversa. Temos que fugir. O problema não é aquela mulher estar morrendo enquanto uma outra dentro dela, mas fora, pulsa querendo retornar, e um poeta não querendo que ela morra, com um hierofante marretando morais. Mas sim o que ela significa, -qual o signo pra ela?-, ou o momento, o lugar que estamos.

Vimos então que as frases são independentes da construção prosa. Nós poderíamos refazer o texto com aquelas falas. Fizemos um exercício: como cada um tinha em mãos algodão e sangue um texto, só com as falas dos personagens isolados, não iríamos seguir a ordem do Oswald, do texto. Nós iríamos na escuta, no significado da fala do outro; e fizemos. Muitas coisas legais surgiram, mas ao terminarmos ainda ficou aquela questão: nós estamos fazendo e estabelecendo uma relação um com o outro, embora as ordens das falas estejam ao léu, no desejo do ator. Mesmo que não fosse os personagens, e fosse agente. Ao mesmo tempo que a idéia primordial era não estabelecer uma prosa.

Mas o texto é um jogo onde tudo se encaixa, como for, nas seqüências ou formatos em que for tocar a música da partitura do texto. Daí pronto. Entendemos. Entendemos quando fomos à rua, na praça. Em que um menino toda hora ficava dizendo NÃO. Agente fazia uma fala e ele dizia NÃO. E uma boa parte do texto, conseguimos deixar o menino no centro de uma roda, e todas as nossas falas eram pra ele. Os quatro personagens que antes discutiam um com outro, começou a somar idéias, e a expor seus movimentos desejos e recalques, mas para o menino, falando com o menino, ele “foi” todos os personagens, dependia de quem falava.

Assim fizemos o que? Fizemos os personagens agir coletivamente. Era isso que faltava. A ação primordial da cena com essa direção da rubrica. Nós que tínhamos e temos algo a dizer além daquela música, personagens, fazemos os personagens falarem seus textos como um chamado de um corpo só. Como se os que estão falando fizessem parte de um corpo maior, do qual eles fazem parte, e no momento ainda circundam no entorno de sua parte maior, e porque não, agora, antagônica, até retornar...

Essa magia descoberta, é foda na prática. Porque ainda voltamos para a sala, e fizemos cada um encostado em uma parede. Ainda tínhamos aquela ação coletivamente, mas logo estávamos não falando pra algo sobre algo, estávamos de novo, e num círculo fechado em que os personagens não saiam do drama, ou do que estávamos descobrindo um do outro através do texto, ou seja estávamos no círculo fechado. O que nos fortalecia no “olhos nos olhos”. Faltava ali na sala nossa ação coletiva. Aquela que o menino provocou em nós juntos, e falávamos só com ele, todos falavam com ele, éramos um só, querendo que ele fizesse outro algo. E era jogar com agente e escutar também; e ele fazia. Mas com NÃOs.

Foi isso que constatamos. E levantou-se questões sobre cada frase dos personagens sentidas. Enfim foi um encontro de encontro mesmo, pororocando e abrindo abcesso. De teato, e que na loucura da descoberta fomos a um lugar oposto ao nosso em que estávamos o dia inteiro concentrados; e nos chocamos com as milhares de disponibilidades, e de dimensões quando se está em um lugar aberto e onde tem crianças principalmente. A coragem. Ou não só o lugar aberto mas com certeza, maior do que a preparação, ou pelo menos a dimensão da preparação ainda não chegou. Início. A comprovação do rito ligação e poesia. Elas, as crianças, ficaram o tempo inteiro com agente, rindo e gargalhando. Tinha umas meninas que ficaram andando atrás do poeta, como sua sombra.

O menino dos “NÃOs”. Uma bebê de carrinho com seu pai que apareceu quando a Beatriz se perguntava porque tinha nascido, e o pai entendeu. Enfim o texto embora ainda bem virgem, na mão, tomou a espacialidade que precisamos, para poder não fazer os personagens conversarem entre si, mas agirem coletivamente. E daí enfim surgiram muitas coisas que quem viveu vivo tem que estudar entender para poder no próximo jogo já dar seus passos, seu ritmo, e jogar, estimular. O objetivo é o coletivo, agir coletivamente. E hoje se agiu coletivamente, fazendo como o Zaratustra nos cantou, PROCURE ZEROS.

E daí tinham muitas pessoas.

Evoé.

Começou. Quem quiser chegar pro ato chega. Que quiser aparecer só no ato, apareça. Só não fique incomunicável. Nós criamos a comunicação, não importa a distância; a distância é outra coisa.

Pelo amor recebido hoje. O passe. E coragens.

Vamos em frente, ao refinamento da nossa atuação.

Sabemos o que é o medo?

MERDA

ENFERMEYRO CARPYNTEYRO

Quarta-feira, 20 de março.

1° dia de outono.

Em São Sebastião.

Amor e saudade

Um comentário:

charlie disse...

com honra, que não precária, com liberdade, que não provisória... até o descobrimento do crime.
os sexos morrerão cada um pra o seu lado, depois...